Thursday, August 10, 2006
Escadas
A percepção do impacto e interferência que as escadas causam no espaço urbano, foi um dos partidos que impulsionaram o desenvolvimento deste trabalho. Como o tema do seminário aborda a relação da Arte-Cidade, nosso enfoque foi a sua relação com a cidade Salvador, onde a morfologia permite uma multiplicidade de escadas.
Através da experiência cotidiana de percorrer a cidade percebemos a escada como modificado da paisagem urbana. Verificamos a dualidade entre a racionalidade rígida das construções planejadas, e as espontâneas construções populares que se confundem e muitas vezes são formadas por elementos naturais pré-existentes.
As escadas construídas deste modo podem estabelecer uma relação de mimese quando acompanha a topografia e em outra vezes uma relação de oposição a paisagem, com formas sinuosas, sensuais, duras e as vezes brutas. Essas escadas são mais fragmentadas, desconstruidas e possuem uma leitura de mimese mais acentuada que a escada projetada.
As escadas também podem ser lidas como registros dos usos de diversos materiais e tecnologia das épocas que foram construídas. Um testemunho físico do tempo.
São também elementos de sinalização. Onde há uma nova escada, há um novo território a ser desvendado. As escadas fazem com que os territórios sejam unidos, rompendo barreiras naturais e tornam espaços distintos, unificados. A transformação cultural pode ser canalizada por escadas, sem elas teríamos muitos núcleos culturais mais preservados e homogêneos.
Em uma outra leitura, as escadas podem exercem uma relação de distorção do espaço. Essa distorção acontece quando dois espaços separados verticalmente - distintos por essa polaridade vertical – tornam-se homogeneizados. A sensação é parecida com a que se tem ao subir andares de um edifício por um elevador. Perde-se a noção da verticalidade.
Todo esse questionamento tem razão por existir, pelo fascínio que nos faz sentir ao percorrer com o olhar a paisagem modificada, transformada por “escadas cortes”, fendas nos morros, que se abrem e se articulam as artérias, as ruas, os becos, as casas e barracos.
Jr! - JP